Entrevista com Marcos Paulo dos Santos, o Marcão

Entrevista – Marcos Paulo dos Santos, o Marcão

Goleiro do EC Pinheiros (SP) conquistou em dezembro o 14° título da Liga Nacional na carreira

Para Marcão 2017 foi um ano de grandes vitórias

Marcos
Paulo dos Santos, o Marcão, é um dos atletas de handebol mais
renomados do País. Com 41 anos de idade, 28 de carreira, fez da
modalidade sua vida desde jovem. Como muitos meninos, começou a
jogar na escola e desde aquela época não parou mais. O goleiro do
EC Pinheiros (SP) possui nada menos que 14 títulos da Liga Nacional,
o último conquistado no mês passado com a equipe paulistana. Um
modelo de disciplina, preparo físico e acima de tudo garra, Marcão
é um exemplo para várias gerações. Mas, a carreira dessa
“muralha” não se ateve somente aos clubes. Durante muito tempo
ele integrou a Seleão Brasileira de diferentes categorias e disputou
algumas das competicoes mais importantes. Hoje, observa o desempenho
dos companheiros da equipe nacional com orgulho pela evolução
conquistada e por enxergar um potencial de conquistas muito grande.



Na
entrevista a seguir, ele conta um pouco de como se mantém em alta
por um período tão longo, sobre os planos a seguir, e a relação
com a família, que vive o handebol como os irmãos, incluindo o
também goleiro Maik – que atuou ao lado dele na Seleção -, a noiva
Fernanda Barbosa, a cunhada Lucila Viana, entre outros.


Com
experiência de veterano e animação de um aspirante, Marcão é um
dos capítulos de maior destaque do handebol masculino brasileiro.




Quantos
anos já de carreira?





R:
Entre o colégio, a Metodista e E.C.Pinheiros, somam 28 anos.




Como
foi o início com o handebol?





R:
Por meio das aulas de educação física no colégio. Disputei umas
competições, me destaquei e uma amiga me aconselhou a procurar a
equipe de São Bernardo do Campo, chegando lá, ainda não era
metodista e sim ASA de SBC, depois criaram a equipe da Metodista.




Quantos
títulos da Liga Nacional?





R:
14 títulos (97/98/99/00/01/02/04/06/09/10/11/12/15/17).




Quanto
tempo esteve na Seleção?





R:
De 1995 Seleção Junior a 2012. Entre umas fases e outras…
acredito que somam uns 12 anos.




Como
busca motivação para seguir e brigar por mais títulos?





R:
O fato de trabalhar tanto treinando, de ter um nível técnico
elevado e ser reconhecido por isso, me faz ir em busca de novos
desafios e construir novas histórias. Isso é bom demais, é a
cereja do bolo, a emoção e sentimento que só encontrei no esporte.




Você
chegou a pensar em outra carreira quando era mais jovem? Qual?





R:
Sim, tentei fazer um teste para ser goleiro de futebol de campo, mas
era difícil encontrar alguém para me indicar ou dar uma simples
oportunidade para eu mostrar o meu potencial. Uma vez que eu tinha
1m80 aos 16 anos, acredito hoje que eu teria conseguido construir uma
boa carreira no futebol. Meu pai estava deixando de ir trabalhar para
ir comigo nos clubes e como não conseguíamos nada, achei melhor ele
não se prejudicar perdendo dias de trabalho. Me reuni com alguns
amigos do time do colégio e meus irmãos, fomos então fazer um
teste no handebol, não tivemos nenhuma dificuldade para fazer o
teste e o handebol entrou em nossas vidas.




Você
é um líder para sua equipe e um exemplo, mas também já disse que
aprende com os mais novos. Como é essa relação de troca?





R:
Procuro ajudar porque sou um dos mais experientes da equipe, já
vivenciei muitas situações. O que faço é criar o máximo de
dificuldades pra esses garotos durante os treinos para que durante a
realidade de jogo eles possam me ajudar colocando em prática aquilo
que eles têm de melhor, a juventude. Essa troca é bem legal.




Como
você motiva seus companheiros nos treinos e jogos?





R:
Além de levar algumas falas pra motivar, procuro aconselhar, mostrar
que estamos juntos e que dependemos um dos outros para alcançarmos
os nossos objetivos. Nos treinos, acredito que o exemplo vem de cima,
dos mais experientes, então não relaxo e exijo o melhor deles,
mesmo que seja difícil em alguns momentos, porque os garotos também
precisam entender e fazer a parte que compete à eles, que é se
dedicar para não só evoluir, mas ainda aproveitar o fato de que têm
ali outros atletas experientes do nível de Zeba, Diogo, Zé.




Como
você costuma lidar com a pressão nos jogos?





R:
Procuro controlar a ansiedade e o frio na barriga, busco focar na
minha missão para o jogo, na concentração e procuro estar ciente
que me preparei e estou preparado para aquele momento.




Que
lições você tira da sua carreira todo esse tempo?





R:
Que o tempo é precioso, as oportunidades são preciosas, os
aprendizados, as amizades, os erros e acertos são valiosos.
Aproveitei e ainda estou aproveitando ao máximo todas as fases e
lições dessa vida esportiva, porque sei que carreira de atleta é
curta.




Com
todo esse tempo jogando em alto rendimento, é necessária uma
preparação muito forte. Como se manter em forma, não só
fisicamente, mas também mentalmente para estar na ativa?





R:
Ao meu ver o que mais fez diferença foi amar o que faço. Além
disso, o fato de me cuidar para ter sucesso nessa árdua carreira de
atleta. O Brasil ainda é um país que não tem uma cultura esportiva
tão forte, logo oferece pouco apoio aos atletas, principalmente,
aqueles que atuam em esportes olímpicos, que necessitam demais desse
apoio. Treinei e ainda treino muito a parte de condicionamento físico
com musculação e fortalecimentos, a parte técnica e tática em
quadra, e procuro me preparar o melhor possível psicologicamente
para os jogos e treinos. Assim, cheguei onde estou e pretendo seguir
trabalhando para ir mais longe, preciso ter muita paciência e calma
para dar conta dessa missão e conto com a ajuda e apoio da minha
família e amigos.




Como
é sua relação com Sergio Hortelan, seu técnico no Pinheiros? Há
quanto tempo trabalham juntos?





R:
Minha relação com ele é muito boa, de amigo. Tenho muito respeito
e admiração pelo excelente técnico, professor, pela pessoa que
aprendi a conhecer e pelo ser humano que ele é, quando procura
ajudar os outros, pensando no que é melhor para eles no futuro. Já
o conheço e trabalhamos juntos alguns bons anos com a Seleção,
porém, no mesmo clube estamos trabalhando há mais de nove anos.




Como
é a relação com a sua família que vive o handebol?





R:
É a melhor possível, sem eles nada disso teria acontecido. Eles são
a minha maior inspiração. Sempre que estamos juntos uma hora ou
outra o assunto handebol aparece. Amo demais!




Tem
planos de parar de jogar em breve?





R:
Hoje é dificil responder essa pergunta porque estou muito bem, sei
que a hora está chegando, por isso, vivo cada ano como se fosse o
último.


Pensa
em seguir com o handebol de outra forma depois que parar de jogar?
Como carreira de técnico ou outra coisa.


R:
Vejo muitas possibilidades de estar ligado ao handebol. Preciso
estudar melhor isso no futuro. Porém, acredito que sim, porque
trabalho há quase 30 anos com o handebol. Existe muita carência de
trabalhos específicos para goleiros e penso muito em contribuir
nesta área.




Qual
a maior recordação da sua carreira?





R:
Tenho quatro recordações.

1)
Pan-Americano em Winnipeg – Canadá 1999. Fomos vice-campeões contra
a forte equipe de Cuba, depois de duas prorrogações e perdemos nos
tiros de 7 metros.

2)
Campeão Pan-Americano em Santo Domingo- República Dominicana – 2003

3)
Olimpíadas de Atenas – Grécia

4)
Conquistar a tríplice coroa em 2017 (Pan-Americano de
Clubes-Argentina, Super Paulistão e Liga Handebol Brasil).


Quem
foi seu maior espelho no handebol?


R:
Os meus maiores espelhos foram Jabá e Cachorrão ( ambos,
ex-goleiros da Metodista)




Você
tem ainda algum grande sonho que deseja realizar?





R:
Sim, alguns na verdade. Ter uma boa casa, reconhecimento profissional
na minha área de formação e constituir minha família.


Como
você enxerga a evolução do handebol brasileiro?


R:
Enxergo que nossa evolução veio ano após ano crescendo aos poucos.
Tivemos um ápice de evolução e muita qualidade com o Jordi à
frente da Seleção Masculina, com os acampamentos, cursos de
capacitação para técnicos e professores. Agora, com a saída dele,
o maior desafio é não só manter o legado que ele deixou, mas sim
seguir evoluindo. Claro que a maior saída dos jogadores para fora do
Brasil, soma demais para o crescimento dos atletas e do nível
técnico, quando os mesmos retornam pra Seleção, mas em
contrapartida, dimiui o nível técnico aqui no Brasil, porém,
também dá oportunidade aos que aqui estão.




Como
você vê essa nova geração do handebol brasileiro, com mais
oportunidades fora do País, mais intercâmbio de experiências? Você
vê uma geração mais confiante?





R:
Vejo com bons olhos a nova geração, muito potencial a ser
trabalhado para que lá na frente os frutos possam amadurecer com
qualidade. Os intercâmbios e trocas de experiências são ricas
demais para eles, não só como atletas mas também como pessoas.
Acredito que um trabalho bem organizado, planejado, transparente, de
continuidade, uma melhor competição interna para que os atletas que
estão no país cresçam e evoluam, será um passo muito firme em
busca da qualidade e confiança dessa e das próximas gerações.




Na
sua opinião, o que o esporte pode acrescentar na vida de uma pessoa?




R:
Pode acrescentar no convívio social, aprender a dividir, conviver em
grupo, respeitar as diferenças de raça, crença, opinião, aprender
a superar desafios, praticar o doar, enfim. Acho que a maior arte é
levar essas lições do esporte para a vida.








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